A Segurança do Cidadão: muito mais do que promessas
A questão da segurança pública no Brasil tem sido um dos gargalos ao pleno exercício dos direitos do cidadão. A população se sente acuada e refém de criminosos, em todos os sentidos e, especialmente, na restrição do seu direito de ir e vir, seja em direção à escola, ao trabalho, às atividades de lazer e ainda por se sentir aprisionada dentro de suas próprias casas. Uma constatação óbvia: Com o aumento alarmante da violência, o cidadão tem sido confrontado, diariamente, com a necessidade de preservar sua vida e de seus familiares, onde quer que ele esteja, o que tem afetado diretamente a sua qualidade de vida e de seus familiares, bem como da sua comunidade local.
Em época de caça aos eleitores e embalada pelos indigestos programas eleitorais, a segurança pública tem sido, historicamente, alvo de promessas à população, algumas falsas e outras ilusórias, protagonizadas pelos aspirantes ao Poder Executivo e Legislativo, passando pelos diferentes níveis de poder, o que se repete, invariavelmente, a cada dois anos. Mas afinal, em relação à segurança pública, qual o papel do Estado? Como a Sociedade Civil participa desse processo?
Segurança Pública: Papel do Estado
A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) é o órgão responsável no Brasil pelo planejamento, implantação e monitoramento da política nacional de segurança pública e, também, pela implantação do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), tanto em nível nacional, quanto local. O objetivo principal, segundo afirmam, seria a valorização da informação como principal estratégia e ferramenta de integração das ações das organizações ligadas à segurança pública, incluindo as polícias militar e civil, o corpo de bombeiros, a guarda municipal, os órgãos de administração pública e a sociedade civil.
Em tese, tudo isso propiciaria a racionalização da aplicação de recursos e esforços públicos na área de segurança, visando o eficiente enfrentamento da violência e o combate às organizações criminosas ligadas aos homicídios, assaltos, ao tráfico de armas e drogas, enfim, todo tipo de agressão contra a vida humana, ao patrimônio e à própria polícia. Como a segurança pública é tarefa dos Estados, é preciso haver então, a integração entre políticas urbanas e políticas de segurança pública.
Mas apesar de tudo isso, o que ocorre na prática diária, principalmente nas grandes cidades brasileiras? O cidadão comum se sente, de fato, protegido? Na verdade, as estatísticas oficiais acerca da violência têm corroborado um lamentável caos urbano, na maioria das cidades.
O Poder Paralelo do Crime Organizado
Ao avaliarmos o problema da violência e da segurança pública, é inquestionável a constatação da influência do poder paralelo promovido por organizações criminosas, como, por exemplo, o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma facção criminosa paulista, cujos líderes, mesmo encarcerados, detêm em suas mãos, o poder de vida e morte sobre os cidadãos, num flagrante e abusivo desrespeito às autoridades legalmente constituídas e cujas ações têm-se mostrado eficientes, desafiadoras e destemidas em relação às medidas repressoras impostas pelo Poder Público. Isso está evidenciado no dia a dia das pessoas, estampado nos telejornais e nos programas que exploram as ocorrências urbanas e presente nas redes sociais. Pior do que isso, já faz parte do meu e do seu cotidiano, dos locais onde vivemos. O medo tem imposto respeito e gerado insegurança e tem mudado as rotinas e os hábitos das pessoas, mesmo que seja apenas conversar com parentes e amigos na porta de casa. Convivemos cotidianamente com execuções sumárias e balas perdidas e inocentemente perguntaríamos: “Quem poderá nos defender?”
O Problema da Violência: Existe uma Solução?
Os órgãos governamentais de segurança têm buscado integrar esforços para combater a violência e impor a ordem pública, como, por exemplo, as bem avaliadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), instaladas em algumas favelas e morros cariocas. No entanto, a questão da segurança pública e a mitigação da violência são, sem dúvida, bem mais complexas e de difícil equacionamento e vão além de medidas repressoras ou a construção de novos presídios e do aperfeiçoamento dos sistemas carcerário e judiciário.
É mister ainda, lançar luz sobre a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e avaliar seus efeitos práticos no seio da sociedade, devido ao grande número e à gravidade das infrações praticadas por adolescentes, inclusive a mando de criminosos maiores de idade. No entanto, na avaliação da questão do menor infrator, a desestruturação dos laços familiares é um componente muito importante a ser considerado.
Enfim, muito mais ainda precisa ser feito para o combate da violência: a redução das desigualdades entre as pessoas, em termos econômicos e sociais; maciços investimentos em saúde e educação da população, como forma de alcançar o desenvolvimento pessoal e social, uma vez que a escola possibilita o convívio social, a formação adequada da pessoa e a criação de vínculos com a comunidade ao seu redor; a disponibilização de serviços públicos básicos, principalmente nas periferias das cidades, onde o Poder Público tem sido omisso de diversas formas, possibilitando a instalação e a prevalência do crime. Em geral, os moradores da periferia não dispõem de saneamento básico, asfalto, energia elétrica, iluminação pública e transporte; têm pouco acesso à cultura, esporte e lazer, segurança ou à justiça, além de reduzida oferta de empregos, tudo isso associado ao tráfico e ao consumo de drogas, principalmente o crack, que, repetidamente, tem aberto portas para a prática de diversos crimes e o aumento da violência, devido à forte dependência que provoca nos viciados.
Por outro lado, na abordagem da violência são importantes ainda, o combate à corrupção, em suas diversas formas, além dos necessários investimentos em segurança pública, inclusive com a utilização de recursos tecnológicos e a implantação de estratégias exitosas utilizadas em outros países, bem como a adoção de medidas preventivas à prática criminosa.
Por fim, paralelamente à ação do Estado, a segurança pública e o combate da violência devem ter a participação de toda a sociedade, seja cobrando soluções do Poder Público ou se organizando em redes comunitárias, em busca de proteção e apoio, seja para o desenvolvimento social ou para a obtenção de efetivas políticas públicas de segurança.