Claudio Ramos. Cientista Político.
Quem é o alienado político?
A alienação política é uma realidade no cenário brasileiro e atinge de forma indistinta, os diversos segmentos sociais. Alguns se envolvem na política motivados até pela extrema necessidade, tais como os mais pobres, que estão sempre suplicando aos seus governantes políticas públicas básicas: saúde, segurança e educação, o que, numa análise mais pragmática, acaba por dar a eles, uma consciência política mais aguçada.
Nessa linha de pensamento, o alienado político é aquele que não quer ou se recusa a participar da vida política e de exercer de fato a sua cidadania; tem total desinteresse por todas as questões políticas; pouco se interessa em acompanhar ou investigar os atos de seus governantes e ainda confia cegamente o seu destino a alguns líderes políticos, pois afinal, em sua visão “são eles que entendem de política e então farão o melhor para o bem de todos”. Enfim, ele não questiona e nem avalia o desempenho dos gestores públicos e entende exercício do voto eleitoral mais como um peso e não como um direito legítimo ou mesmo como um passaporte para a mudança e assim, não reconhece e nem valoriza a força de que realmente dispõe.
Razões da Alienação Política
A face intrigante da alienação política é que tudo aquilo com que sonhamos ou desejamos em termos pessoais, familiares e para a nossa cidade ou país, de algum modo, em alguma etapa, deverá ser objeto da análise política ou decorrerá do processamento político da questão. Assim, fica a pergunta: Por que então se afastar desse processo? Sei que existem vários argumentos: “os políticos são corruptos e eu quero é manter distância deles”. No entanto, se as pessoas de bem, aquelas que buscam fazer tudo da forma mais correta, que são íntegras e honestas e que respeitam o direito de seus semelhantes, se afastarem voluntariamente do processo político, o que nos restará? Infelizmente, salvo as raras exceções, sobrarão aqueles indivíduos que querem viver DA política e se servem dela em seu próprio benefício, e não vivem PARA a política, conforme pensamento de Max Weber expresso na obra “Ciência e Política: duas vocações”. A visão correta e ampliada da Política exercida como vocação e com real espírito público, deve ser entendida como aquela que busca o bem-comum, cujas ações são alicerçadas em princípios éticos inabaláveis e inegociáveis.
É evidente o descrédito da população brasileira em relação aos erros cometidos no passado pelos políticos e seus respectivos partidos, mas que infelizmente ainda continuam a rechear os noticiários da televisão, com histórias de desvios de recursos públicos e de condutas reprováveis de muitos gestores públicos, fatos que revoltam e enojam os telespectadores. Isso alimenta e aprofunda o processo de alienação política das pessoas.
Uma questão relevante
O que mais me incomoda nessa questão da alienação política é a atitude de pessoas que detêm grande conhecimento acadêmico e que são profissionais de destaque e até mesmo de renome em suas respectivas áreas de atuação. Muitas dessas pessoas em seu cotidiano denotam uma completa alienação ou mesmo um desprezo em relação aos benefícios que possam advir na esteira de sua participação política e de práticas de cidadania. Isso é um verdadeiro contrassenso, pois são pessoas que possuem grande potencial de influência. E no andar da carruagem, os alienados acabam sendo cooptados por espertalhões que vivem DA política, estrategicamente embalados por suas falsas promessas ou pelos discursos falaciosos recomendados por suas assessorias de marketing político. Enfim, tornam-se presas fáceis de “salvadores da pátria”, de populistas ou de algum outsider.
O cidadão politicamente consciente
Tenho a firme convicção na validade e nos desdobramentos benéficos decorrentes da efetiva participação do cidadão nos destinos da nação brasileira. Por isso, conclamo e estimulo a todos a se alistarem nesse exército, por mais desanimado e cansado que o meu leitor esteja em relação a tudo que você tenha vivenciado até aqui, em termos políticos. Acredito no efeito “formiguinha” das atitudes individuais e na comprovada força da ação coletiva. No entanto, é mister, fundamental e urgente, a sua conscientização e envolvimento político. Não deixe de fazer parte desse processo de mudança, o que resultará, com certeza, em benefícios para todos os brasileiros.