Claudio Ramos. Cientista Político.
Um Poder em Crise
No Brasil de hoje, o Legislativo não nos representa e nem atende aos anseios dos cidadãos que, honestamente e às duras penas, pagam os seus impostos. O Poder Legislativo precisa resgatar a sua imagem e funcionalidade, a fim de que os parlamentares tenham a imprescindível legitimidade e honradez no cumprimento do mandato que receberam do povo. As pessoas não se sentem representadas pelo Legislativo, nem pelos partidos políticos e nem políticos tradicionais. É notório o desprezo popular ao modelo de representação política atual, conforme previsto pela legislação eleitoral. Além disso, a população brasileira ainda encara a política como um meio ilícito de enriquecimento e como fonte de privilégios e vantagens pessoais e familiares, ou seja, coisa para espertalhões e aproveitadores do poder.
Há uma crise em curso, uma crise de legitimidade dos nossos representantes, devido à falta de canais permanentes de diálogo entre os representantes e os representados, ou seja, a participação popular ainda está mais vinculada ao direito de votar. Muitos advogam a adoção da democracia direta no país, como forma de acesso aos espaços de poder, mas trata-se de uma proposta sem qualquer razoabilidade. E o questionamento que se faz é de que maneira se pode capitalizar a vontade popular, mantendo-se a democracia, as instituições sólidas e as conquistas sociais e constitucionais? Seria por meio de uma reforma política e eleitoral? Seria por plebiscito, referendo ou projetos de iniciativa popular? Seja qual for o caminho escolhido, entende-se que é possível e desejável a interação da população com os seus representantes.
As pessoas não querem mais ser representadas por políticos oportunistas, corruptos e sem ética. Falta aos parlamentares, a legitimidade necessária ao exercício do mandato que receberam, pois eles, em sua maioria, têm atuado de forma indigna e de costas para os seus eleitores. Por outro lado, as pessoas querem ser valorizadas, ouvidas e conquistar os seus espaços de participação no poder decisório e ter o controle social dos agentes públicos; querem exercer o direito de apontar as falhas e os desmandos na gestão da coisa pública e não serem apenas massa de manobra ou cooptadas por lideranças sem escrúpulos.
Além disso, os cidadãos brasileiros querem ser também protagonistas da construção desse algo novo, desse novo caminhar, em termos políticos. O povo deseja gente séria na política e nas instituições públicas, em substituição ao modelo falido atual. O povo clama pelo fim das velhas práticas políticas e repudia a existência de donos de partidos e o monopólio que eles detêm sobre a política.
Uma Nova Política
A Nova Política é uma alternativa à forma tradicional de se fazer política, historicamente baseada em acordos espúrios e em conchavos para a obtenção do poder pelo poder, ou mesmo visando a governabilidade ou para dar suporte a um Presidencialismo de coalizão. A sociedade busca a transparência e a cidadania em todos os espaços políticos do poder institucionalizado. Há um clamor popular por candidatos ficha limpa, pela reforma política imediata e pela seriedade no trato da coisa pública. Isso deverá repercutir no surgimento de lideranças capazes de filtrar e condensar a vontade popular nos diferentes segmentos sociais, marcados pela diversidade e pluralidade, mas com base na tolerância e na convivência pacífica e na sustentabilidade, enfim, na busca pelo bem comum. Em uma só frase: o povo quer o fim da corrupção.
As candidaturas avulsas, ou seja, aquelas sem o controle e o crivo dos partidos políticos, deveriam ter seu espaço institucionalizado no cenário político e eleitoral brasileiro, para dar mais legitimidade à representatividade política, além de encarnar uma forma mais democrática de acesso ao poder, pois seriam candidaturas eivadas de legitimidade e chanceladas por eleitores convictos e conscientes de suas escolhas.
É salutar a participação popular visando melhorias na forma de governar, de decidir os rumos da nação, de acompanhar os gastos públicos e exigir a accountability das instituições e dos agentes públicos, cujo conceito abarca duas dimensões: a delegação de responsabilidade e a gestão dos recursos alocados, pois cria a obrigação de prestação de contas por parte de quem administra os recursos, e inclui a demonstração dos resultados obtidos e a otimização na utilização dos recursos.
A Política em Rede e nas Redes Sociais
A velha política precisa ser substituída por uma nova forma de atuação política, a Política em Rede, ou seja, uma política mais horizontal, polifônica e multicêntrica, e sem a necessidade de um líder carismático ou de um salvador da pátria que detenha o poder de legitimar ou de encaminhar o atendimento das reivindicações das diferentes vozes das ruas, em suas complexas pautas de demandas.
O advento da Internet modificou, de forma substancial, as relações entre as pessoas, seja na forma, na velocidade ou na qualidade dessas relações sociais, com influência nos diferentes campos, que vão desde o campo pessoal até o político. Enfim, existe uma nova lógica irreversível em processo nessa sociedade em constante mudança e evolução, ao mesmo tempo em que há um movimento em curso na sociedade brasileira pela valorização do voto.
As redes sociais e os blogs têm conquistado, de forma progressiva, espaços nas diversas áreas da vida das pessoas, propiciando mudanças radicais e concretas, concedendo empoderamento político aos cidadãos, com influência decisiva na forma de participação popular e com forte apelo por novas conquistas e avanços sociais. Nos dias atuais, ocorre um impressionante engajamento dos jovens no processo político, por meio das redes sociais, principalmente, o Facebook e o Twitter, dentre outras. Na verdade, esses jovens já descobriram a força que essas redes detêm, quando se busca disseminar ideias e defender causas de várias naturezas, sejam em repúdio a preconceitos e dogmas ou para obter apoio a questões urgentes, humanitárias, justas e políticas.
Os Novos Cenários Políticos
As eleições de 2014, por exemplo, já se esboçavam como definidas, mas hoje estão novamente no centro do debate, decorrentes do estabelecimento de novos cenários políticos desencadeados pelas manifestações populares e pelo surgimento de novas alianças políticas. Espera-se que tudo isso concorra para a consolidação de novas e boas lideranças políticas e promova uma real possibilidade de renovação das forças políticas no poder e nas formas de representação. A renovação do poder, aliás, indica a existência dos pilares da verdadeira democracia em uma nação.
A Política é o canal por onde passam as principais mudanças que afetam o dia-a-dia de todos os cidadãos desse país. Por isso, a Política deve ser exercida como uma vocação e com honradez absoluta, ancorada na efetiva participação popular, de forma livre e soberana. Assim, que a soberania popular se estabeleça. Que os cidadãos, de fato, resgatem o poder de mudar os paradigmas da velha política e removam os vícios do parlamento atual e reúnam forças para imprimir um novo norte à vida de todos nós e que participem, definitivamente, do processo decisório.