Considero bastante simbólica a ausência de pessoas protestando, seja do lado de dentro ou do lado de fora do STF, durante ao julgamento do mensalão. Sabe-se inclusive que muitas cadeiras destinadas ao povo, permaneceram desocupadas. Interessante notar que, embora o que se está julgando seja muito importante para o cidadão e que pode significar um novo balizamento nos rumos da política no país, mais relevante se torna essa ausência do povo nesse julgamento. Mas o que explicaria então essa ausência? Seria o descrédito das pessoas na justiça brasileira? No senso comum e no imaginário do brasileiro, acredita-se que somente os pobres ou pessoas sem recursos são alcançadas pelos braços da lei. O que se observa na prática é que os mais endinheirados podem e contratam bons advogados para defenderem seus interesses. São advogados experientes que conhecem e buscam todas as brechas da lei, que adotam todas as medidas protelatórias permitidas nos processos, enfim, encontram meios para que seus clientes de alguma forma possam se safar das acusações que lhes são imputadas ou até mesmo adiar o máximo possível eventual punição, tudo isso baseados nos meandros das leis do nosso país.
Quando cidadãos trabalhadores e muitos até humildes vêem algumas autoridades do judiciário se digladiando e expondo às câmeras de televisão suas vaidades e preferências, acabam recebendo uma mensagem explícita e até mesmo uma lição, de como não deveria ser o relacionamento entre as pessoas, cuja convivência deveria ser exemplar, harmônica e pacífica.
O povo quer justiça e disso eu não tenho dúvida. O Brasil quer desde sempre e, especialmente nos dias atuais, inserir-se no Primeiro Mundo. Mas, enquanto a percepção de justiça das pessoas alimentar esse perfil atual e, historicamente, se persistir a confirmação de que somente os ricos e poderosos continuarão a se beneficiarem da justiça, pela utilização de todos os meios e recursos disponíveis para se livrarem de algum delito ou crime, chego a uma conclusão óbvia e inevitável: com esse andar da carruagem , nós nunca seremos, de fato, primeiro mundo!
